Pesquisar este blog

domingo, 19 de maio de 2024

Depois do dilúvio - Val Feltrina, Silveira Martins, RS

Nessa semana que passou pude ver um pouco mais os estragos que as inundações de final de abril e maio trouxeram para a região. Acompanhei meu amigo Ronai Rocha até Silveira Martins onde levamos uma carga de doações recolhidas no posto da Polícia Federal em Santa Maria e deixamos no salão comunitário daquela cidade. Depois disso, descemos pela Estrada do Capitel até a localidade de Val Feltrina, único caminho possível devido a queda de várias pontes na estrada que acompanha o Arroio do Meio.

A primeira imagem mais impactante foi de uma casa que desmoronou porque o solo que a sustentava ficou completamente instável e rachou. O chão não chegou a descer pela encosta, mas a casa não suportou a alteração no terreno que a sustentava. No local, além de residência, funcionava uma pequena vinícola e praticamente tudo está perdido. Não é mais casa, não é mais local de trabalho. Apenas ruínas. Acho que alguns tanques vão se salvar porque resistiram ao telhado que caiu.



Logo depois, encontramos o trator ano 1952 do seu Osvino que rolou com a força das águas. Não fosse pelas rodas que ainda resistiram no lugar, talvez fosse difícil reconhecer aquilo como um trator. Ele é uma peça única que ajudava o seu Osvino na lida nos seus parreirais, devido ao seu tamanho pequeno e pode circular entre as parreiras. Setenta e dois anos de história não resistiram à força da água.

 

Logo adiante, deu pra entender o que a enxurrada provocou no pequeno arroio. Árvores gigantescas atiradas ao longo do rio ou nas laterais. Três delas abraçadas num final comum no campinho que rodeia o riacho. Uma ilha recém formada no pequeno balneário, pois o leito do rio ganhou um novo curso. As margens redesenhadas. Uma vaca se aproxima e parece tentar me contar aquilo que ela talvez tenha visto com espanto.





 

Apesar do caos instalado há poucos dias, o rio novamente corre tranquilo e as águas são cristalinas. Os parreiras mantém sua aparência de hibernação de fim de outono. A pequena capela exibe no alto pequenas plantas que parecem saber que no alto é um ponto mais seguro contra a força das águas em excesso. Uma retroescavadeira tenta abrir um caminho para tratores numa curva do rio, pra retirar o isolamento completo que restaram à algumas casa. Os poucos moradores que encontramos ainda olham perplexos pro lugar e pro efeito do dilúvio que assolou boa parte do estado. O céu é de um azul profundo e sem nenhuma nuvem, diferente dos dias que antecederam, quando rios jorravam dele.






Que o negacionismo climático se extinga ou seja reduzido a níveis mínimos depois disso tudo. Que os atingidos tenham força, apoio e serenidade para se reconstruírem depois desse evento climático extremo. São milhares em todo Rio Grande do Sul. Não será um processo fácil nem rápido. Mas é um povo resiliente!


 

 

 




2 comentários:

  1. Belo texto e fotos. Desolador, realmente. Espero que valorizemos cada vez mais o que temos. Cuidar, cuidar, não seria um caminho tao dificil assim. Dá pra ser diferente

    ResponderExcluir
  2. São inúmeras histórias de inúmeros lugares, Val Feltrina entre elas. Muita dor por todos os lados...e as fotos revelam essa realidade que nos machuca tanto!

    ResponderExcluir