Nessa semana que passou pude ver um pouco mais os estragos que as inundações de final de abril e maio trouxeram para a região. Acompanhei meu amigo Ronai Rocha até Silveira Martins onde levamos uma carga de doações recolhidas no posto da Polícia Federal em Santa Maria e deixamos no salão comunitário daquela cidade. Depois disso, descemos pela Estrada do Capitel até a localidade de Val Feltrina, único caminho possível devido a queda de várias pontes na estrada que acompanha o Arroio do Meio.
A
primeira imagem mais impactante foi de uma casa que desmoronou porque o
solo que a sustentava ficou completamente instável e rachou. O chão não
chegou a descer pela encosta, mas a casa não suportou a alteração no
terreno que a sustentava. No local, além de residência, funcionava uma
pequena vinícola e praticamente tudo está perdido. Não é mais casa, não é
mais local de trabalho. Apenas ruínas. Acho que alguns tanques vão se
salvar porque resistiram ao telhado que caiu.
Logo depois, encontramos o trator ano 1952 do seu Osvino que rolou com a força das águas. Não fosse pelas rodas que ainda resistiram no lugar, talvez fosse difícil reconhecer aquilo como um trator. Ele é uma peça única que ajudava o seu Osvino na lida nos seus parreirais, devido ao seu tamanho pequeno e pode circular entre as parreiras. Setenta e dois anos de história não resistiram à força da água.
Logo adiante, deu pra entender o que a enxurrada provocou no pequeno arroio. Árvores gigantescas atiradas ao longo do rio ou nas laterais. Três delas abraçadas num final comum no campinho que rodeia o riacho. Uma ilha recém formada no pequeno balneário, pois o leito do rio ganhou um novo curso. As margens redesenhadas. Uma vaca se aproxima e parece tentar me contar aquilo que ela talvez tenha visto com espanto.
Apesar do caos instalado há poucos dias, o rio novamente corre tranquilo e as águas são cristalinas. Os parreiras mantém sua aparência de hibernação de fim de outono. A pequena capela exibe no alto pequenas plantas que parecem saber que no alto é um ponto mais seguro contra a força das águas em excesso. Uma retroescavadeira tenta abrir um caminho para tratores numa curva do rio, pra retirar o isolamento completo que restaram à algumas casa. Os poucos moradores que encontramos ainda olham perplexos pro lugar e pro efeito do dilúvio que assolou boa parte do estado. O céu é de um azul profundo e sem nenhuma nuvem, diferente dos dias que antecederam, quando rios jorravam dele.
Que o negacionismo climático se extinga ou seja reduzido a níveis mínimos depois disso tudo. Que os atingidos tenham força, apoio e serenidade para se reconstruírem depois desse evento climático extremo. São milhares em todo Rio Grande do Sul. Não será um processo fácil nem rápido. Mas é um povo resiliente!